A natureza no novo currículo escolar

Por que lugares a céu aberto podem ser verdadeiras salas de aula complementares a crianças e adolescentes.

POR MAIS QUE TENTASSE ou se esforçasse, o ser humano jamais conseguiria se desvincular da natureza – ufa, ainda bem! A nossa essência está realmente “lá fora”. A natureza é onde a humanidade nasceu, há quase 200 mil anos, quando pisamos pela primeira vez neste planeta. É onde, durante todo esse tempo, aprendemos a desenvolver nossas habilidades. E graças a essa conexão entre o ser humano e o mundo natural, conseguimos sobreviver e prosperar.

Só que hoje essa relação está modificada. Com o crescimento das cidades e o avanço da tecnologia, estamos cada vez mais nos afastando da natureza. Tanto que já existe até uma corrente de pesquisadores e estudiosos que voltou a ressaltar a importância das atividades ao ar livre – principalmente às crianças.

Em 2016, o escritor Richard Louv achou importante criar o termo “nature deficit disorder” (ou “distúrbio de déficit de natureza”). Em seu livro A Última Criança na Natureza, Richard chamou a atenção de pais e educadores sobre a influência positiva que a natureza exerce na vida e no bem-estar (físico, emocional e social) das crianças. Foi mais ou menos nessa época também que professores e educadores brasileiros se debruçaram com mais atenção nas escrituras da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), um documento normativo definido pelo Ministério da Educação e destinado às redes de ensino pública e privada.

A BNCC tem a intenção de orientar as aprendizagens que todo aluno deve desenvolver ao longo da vida escolar – Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. E a tendência é que ela vire uma referência obrigatória para a elaboração de currículos escolares e propostas pedagógicas. Segundo Luiz Fernando Proença, professor e orientador educacional do Colégio Pentágono, a natureza pode, de fato, ser uma grande aliada na aplicação deste novo padrão de ensino.

A BNCC e a natureza

Em 2022, todas escolas da rede pública e privada passaram oficialmente a aplicar as diretrizes da BNCC para o primeiro ano do Ensino Médio. A reforma completa neste nível de ensino deve acontecer até 2024, quando todas as turmas do segundo grau estarão seguindo as mesmas orientações. O programa, que ficou conhecido como o Novo Ensino Médio, visa, através da flexibilização de um novo padrão, diminuir significativamente a taxa de evasão escolar que ainda é grande entre jovens de 15 a 17 anos. Segundo levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), no terceiro semestre de 2021, 4,4% dos estudantes nessa faixa etária estavam fora das salas de aula. Isso corresponde a mais de 400 mil pessoas.

Baú Base Camp e a Base Nacional Curricular

Foto: pnw-production/ Pexels

Utilizando uma abordagem inédita para se chegar ao conhecimento, o BNCC pretende estimular novas habilidades para que o aluno crie valores pertinentes e se prepare para resolver, com inteligência, as complexas demandas exigidas pelo cotidiano, algo que geralmente se intensifica com a chegada da vida adulta.

 

E se você está pensando novamente que lugares ao ar livre podem ser perfeitos para colocar esse novo método em prática, acertou. “A natureza é um espaço favorável às experiências – ‘com’ a natureza e ‘na’ natureza”, garante Maria Isabel Barros, pesquisadora do Programa Criança e Natureza do Instituto Alana (https://alana.org.br/). “As crianças podem brincar e aprender na natureza e, portanto, podemos pensar em diversas formas de aprendizado, desde o mais primitivo até o mais acadêmico e formal”, completa.

 

A natureza deverá, finalmente, ser a “sala de aula” que faltava, podendo ser vista sob dois aspectos. O primeiro seria como uma área de observação da biomimética (a ciência que utiliza fenômenos e processos da natureza para inspirar e trazer soluções a algumas situações do nosso cotidiano). “A natureza é um grande ‘espaço maker’”, explica Maria Isabel. “O velcro que conhecemos hoje, por exemplo, é um conceito absorvido da natureza, onde diversos tipos de sementes grudam no pelo dos animais para se propagarem. Portanto, é uma tecnologia originalmente inspirada pela natureza.”

 

Outra abordagem seria investir no conhecimento através da interação com populações que possuem relações mais harmoniosas ou conexas com a natureza, como as comunidades tradicionais – os povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos. “Temos muito o que aprender com eles ainda”, garante Maria Isabel.

 

A pesquisadora também destaca que, além de todo o campo observacional que proporciona, a natureza ainda favorece a saúde física em um ambiente de cooperação. “Há pesquisas que mostram que, ao ar livre, as crianças desenvolvem um ‘brincar’ mais participativo”, diz.

A natureza como sala de aula

Foto: pexels-lifekor

E pensar que um dos itens recomendados pela BNCC é o “exercício da empatia e do diálogo para a resolução de conflitos” – um problema que nunca esteve tão atual no mundo moderno. É bem provável que os seres adultos e poderosos que hoje controlam as maiores máquinas políticas e econômicas estejam sofrendo do tal “distúrbio de déficit de natureza”, aquele mesmo problema abordado pelo autor Richard Louv, citado no começo desta reportagem.

 

As vivências outdoor nos colocam diante de situações em que outros saberes – especialmente aqueles que não aprendemos dentro de uma sala de aula convencional – tornam-se indispensáveis. Por exemplo, acender uma fogueira, ou decifrar por onde a trilha segue, ou estar a par de técnicas para encontrar comida. “Essas experiências provam, na prática, que a valorização do trabalho em grupo é imprescindível”, exemplifica Luiz Fernando.

 

Além de nos tornar menos centralizadores, mais flexíveis e seres mais pacíficos, a vivência na natureza motiva práticas sustentáveis. Basta imaginar você se preparando para um trekking. Naturalmente, vai querer levar a menor quantidade possível de bagagem e equipamentos, para não ter que carregar peso excessivo. “Percebe como isso nos ajuda a sermos menos consumistas e descartáveis?”, reflete o pedagogo.

 

A BNCC na prática

 

Infelizmente, a maioria dos centros educacionais ainda segue o antigo padrão arquitetônico que se assemelha a hospitais, com pisos frios e rodeado de cimento. “Parecem espaços criados para controlar o corpo, ao invés de estimular que ele se movimente”, compara Maria Isabel. E ainda não é raro pais e professores se reunirem pedindo a retirada de árvores e áreas verdes, com a pobre justificativa de que “as folhas sujam demais”.

A BNCC pode ser, portanto, um sopro de otimismo para que olhemos os elementos naturais como uma opção de suprir a experiência escolar de significados. Já pensou aprender geometria medindo a circunferência do tronco de uma árvore para calcular o seu “diâmetro”? Qualquer matéria fica cheia de sentidos quando ensinada e aprendida fora de salas de aula convencionais, aquelas geralmente iluminadas por lâmpadas fluorescentes e com pouca abertura para a luz do sol.

Ainda segundo especialistas, o ambiente externo é capaz de acelerar o aprendizado. Então, fica a pergunta: “por que não?”. Para Maria Isabel, essa “adaptação” das escolas é muito mais fácil do que parece. Na verdade, o que geralmente falta são atitudes. Segundo ela, os benefícios ao ar livre já podem ser colhidos a partir de um lanche ao ar livre, ou em um passeio à tarde por alguma praça vizinha à escola.

O Baú Base Camp está alinhado com a Base Nacional Curricular

Foto: Nasik Lababan/ Pexels

É exatamente este o conceito levantado pela educadora e ambientalista Léa Tiriba em seu livro Desemparedamento da Infância (2018). A autora sugere que o encontro das crianças com o mundo natural é também um encontro com a própria natureza, uma combinação perfeita para despertar os melhores potenciais desses seres que estão em pleno desenvolvimento de suas capacidades.

 

Ainda nos resta saber se, na prática, os tópicos propostos pela BNCC vão surtir efeitos. O fato é que, em última análise, a Base Nacional Comum Curricular é uma forma de qualquer escola (principalmente as do ensino público) aproveitar a natureza para estreitar as distâncias com sistemas pedagógicos mais nichados e elitizados – esse que, geralmente, estão mais adiantados na relação “educação e natureza”.

 

A natureza na mira da ONU

 

As escolas também estão atentas à Agenda 2030 da ONU, que apresenta objetivos de desenvolvimento sustentável visando, além da preservação do meio ambiente, a erradicação da pobreza e uma maior igualdade social. Valorizar e proteger fontes de água potável, priorizar o consumo responsável e o respeito às diferentes formas de vida também passarão a ser temas cada vez mais debatidos dentro de uma sala de aula.

 

O Baú Base Camp e o novo currículo escolar

 

O Baú Base Camp está alinhado com as propostas pedagógicas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), promovendo atividades que despertam habilidades, atitudes e valores em crianças e adolescentes.

 

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